Tuesday, April 29, 2008

Indefinivel

Você conseguiria se definir em uma palavra? Uma só. Bom, mal, bonito, feio, extrovertido, sorridente, feliz, miserável, (im)perfeito... Na verdade eu não gosto muito destes “definam com uma palavra”, por que são um desafio impossível. “Defina sua semana em uma palavra”. Será se sua semana foi tão chata, tediosa e monótona (já usei três palavras), para ela poder caber em uma só expressão? Nada neste mundo é tão insignificante a ponto de poder ser reduzido a um verbete de dicionário. Muito menos você.

Mas se eu fosse obrigado a definir o homem com uma só palavra, não hesitaria em responder: “Indefinível”. Parece redundância, mas não é. Não ter definição é a única característica que comporta o ser humano em toda a sua natureza.

O fato é que uma pessoa me chamou de “indefinível” e eu não consegui parar de pensar sobre isso. A princípio até encarei como um elogio, logo eu que sempre tentei me enquadrar em um grupo, em um estereotipo, sendo chamado de indefinível, era um avanço fantástico em como as pessoas me encaravam. Até que descobri que este não era um privilégio meu ou um elogio do qual eu poderia me orgulhar. Não ter definição está para nós, seres humanos, é como ter clorofila está para as mangueiras, por exemplo. É algo que se tem, mangueiras não diriam umas para as outras que tem clorofila, já está implícito, sem clorofila, não há mangueira.

Desde sempre, ou pelo menos desde que o homem pecou pela primeira vez, a humanidade tem se esforçado ao máximo para colocar todos dentro de fôrmas. Talvez isto seja uma das conseqüências mais horríveis do pecado, a tentadora vontade de rotular.

No mundo de hoje, isso tem estado cada vez mais acentuado. Se no passado, as pessoas se diferenciavam entre servos e senhores, clérigos e leigos, cristãos e pagãos, brancos e resto do mundo, agora em um mundo globalizado, onde esperava-se que diferenças importassem cada menos, nos deparamos com superdiferenciações. Existem tribos para tudo e para todos. Não basta mais ouvir rock ‘n roll para ser “roqueiro”. Há os que ouvem rock industrial tocado por bandas com vocal feminino do subúrbio de Estocolmo. No mundo de especificações, há rótulos para todos, e ninguém conseguirá sair deste planeta sem a sua definição.

Quando Deus criou o homem, Ele o fez à sua imagem e semelhança. O que não significa que ele nos tenha moldado e concretado, fazendo o homem dentro da rigidez de uma linha de montagem. Não, Deus não é industrial. Infelizmente estamos acostumados à um Deus engenheiro que cuida para que tudo não fuja do planejamento estratégico preestabelecido. O único estabelecimento de Deus para o homem foi para que homem fosse livre.

Assim que Adão foi criado, Deus logo lhe deu a responsabilidade de dar nome à criação. Ele podia dar o nome que quisesse. Deus queria uma humanidade co-participante da vida criada, uma humanidade dinâmica e livre para viver sem se preocupar com formas e formatos.

O homem é um ser em construção. Isto não é culpa do pecado, fomos criados assim. Às vezes as pessoas (eu inclusive) podem achar que nós estamos sempre em busca de algo mais porque o pecado nos tirou a plenitude do que somos. Ao contrário, o pecado nos definiu! Quando fomos feitos à imagem e semelhança de Deus éramos perfeitos à caminho de mais perfeição. O pecado implodiu este caminho, nos deixando com nossa imperfeição estática e definida.

Deus chamou Moisés para que libertasse o povo de Israel, Moisés entrou em uma crise instantânea. Quando ele aceitou o desafio, logo perguntou à Deus, se as pessoas o interrogassem sobre quem o havia enviado, o que ele deveria responder. Moisés precisava reduzir Deus à alguma coisa que os homens pudessem entender. Mas Deus o disse: “diga que Eu Sou te enviou.” Como quem diz: eu não caberei aonde você quer me colocar Moisés.

Nós, imagem e semelhança de Deus, também não fomos feitos para caber em lugar algum.

Wednesday, March 21, 2007

Magnum Opus

Ia escrever sobre os 50 anos da União Européia. Mas não vou... Então ai está meu afeto encerrado em letras.Meu Magnum Opus, já que os versos são bons e não creio escrever algo melhor que isso nem em 100 anos. Um lirismo latino, de um moço latino, para uma moça européia que provavelmente não entenderia nada desta poesia.

Ê preguiça, sô. E como diria o Ibrahim, “ademã, que eu vou em frente”.




Soneto do Amor Distante

Arde em fogo, coração maculado
Entrega-se ao amor sem pensar
Atingindo em cheio a alma do amado
Em um pranto oblíquo de além mar

Este amor, em postas, sem pecado
Branco, tal qual, algodão em planta
Desabrocha em flor, que o amor encontra
Faz-se verde, da alma, o prado

Perfume de amor, lavanda
Exala encanto em todo o pranto
Chorado em saudade de amor distante

Sangra em dor, uma canção sem canto
Este triste amor nascido errante
Na esperança, de um dia, se tornar encontro

Wednesday, March 14, 2007

Medos e saudades

Semana passada, em um chat com uma amiga, pela Internet, li uma frase que me arrepiou: “o homem me assusta”. Estava em voga o assunto sobre um homem mais velho que executara com quatro tiros uma moça mais nova que era sua antiga namorada, ou algo assim. Tudo foi filmado pela câmera de segurança do prédio onde ela estava e exibido em cadeia nacional de televisão.

Este tipo de matéria, há pouco tempo atrás, só encontraria vazão para ser levada ao grande público naqueles jornais do tipo “espreme e sai sangue”. Bons tempos de criança aqueles, em que a violência se restringia aos bairros afastados e bailes de sábado, onde os foliões de fim de semana, encharcados de cerveja, se digladiavam sem motivo aparente. E bons tempos aqueles de criança que nossos medos infantis, permaneciam na infância.

Minha amiga, assim como eu, foi criada em uma outra realidade social. O que colocava medo na gente, naquele tempo, era o Bicho Papão, o Velho do Saco, a Bruxa do Oeste, e a Cuca, do Sítio de Pica Pau Amarelo. Hoje não. Hoje quem tira o sono é o assassino do João Hélio, é o eixo do mal Irã-Coréia do Norte, é o seqüestrador relâmpago e até mesmo o presidiário, que deveria estar preso, mas mesmo em cadeias, assusta com falsos telefonemas, simulando seqüestros e aterrorizando a vida da sociedade.

O ser humano é, talvez, o único animal racional do universo. E talvez o único animal completamente imbecil do universo. Somente nós nos auto-destruimos. Somente nós destruímos nosso próprio habitat. Somente nós matamos por esporte, ou por vingança. Somente nós nos matamos! Você imagina um peixe emporcalhando o mar? Ou um macaco queimando uma floresta? Não, certamente. Mas nós além de emporcalhar o mar, queimar florestas, ainda tornamos as cidades cada vez mais inabitáveis.

Nunca foi tão forte a presença e atuação de grupos ecológicos. Dos famosíssimos Greenpeace e WWF até os estranhos e radicais como o PETA (People for the Ethical Treatment of Animals). As pessoas lutam pelos direitos da natureza, ou por um tratamento ético (sic) para animais, que deveriam ser nosso alimento e pegar nosso chinelo, porque o descrédito na Humanidade é total. Não é para menos...

Em tempo de fanáticos religiosos explodindo pelo ar, a América do Norte revivendo o Imperialismo clássico e dominando pela força, o caos social globalizado, nunca se esteve tão complicado ser humano. Melhor seria se eu fosse um daqueles cachorros de madame. Digo isto, pois certa vez, fui convidado para uma festa de aniversário de cachorro. As “mães” dos cachorros ainda levam um kilo de alimento para deixar a consciência mais leve, por estar fazendo festa com bolo e doce para os cães, enquanto milhões passam fome. Me recusei a ir. Não é para menos...

Que me perdoem Charles Darwin e sua trupe. Mas, evolução? Por favor, só em outro planeta. Pois no planeta Terra, só se vê a involução moral e ética. Involução porque apesar de já sermos os mesmos depravados que realizavam que crucificações em massa desde Roma, estamos destruindo as poucas instituições que mantém o ser humano do outro lado da linha racional-irracional. Por exemplo, o casamento e a família. Para onde irá a família? Para a mesma vala que está indo a ética ocidental. Relativisamos todos os padrões morais e ainda nos perguntamos o que leva um homem a estuprar e matar crianças. Não é para menos...

Só nos resta um apelo.

Por favor, volte Cuca! Bruxa do 71, volte! Volte boneco do Fofão com a faca dentro! Volte Bicho Papão! Vocês estão fazendo muita falta.

Wednesday, March 07, 2007

Circo! Circo! Circo!

Respeitável público! O Planeta Terra orgulhosamente apresenta seu maior espetáculo! De cerca de 7000 anos de civilização, nunca se ouviu nem se viu um momento tão circense da história! Então, grude na sua cadeira que o show vai começar...

Comecemos pelo prato principal: o dono do circo. A pergunta da semana passada foi: “Se o atentado sofrido por Cheney desse certo, e ele morresse, o Bush assumiria a presidência?” Os nossos colonizadores não estão indo tão bem, afinal, estão encalacrados em dois “vietnans muçulmanos”, com um déficit público histórico que parece um aneurisma, quando estourar, já era... E estourará na mão de quem? Ou na mão de um negro, ou na de uma mulher, ou na de um italiano, ou na de um sexagenário. Serão as eleições mais exóticas da história norte-americana! Onde está aquela América pseudo-conservadora? Pseudo porque, um país que inventou Las Vegas e strippers, que dançam se esfregando numa barra de ferro, não pode ser conservadora de fato, não é mesmo?

Há também os “motoqueiros da roda da morte” e “homens bala” na versão reloud “homens bomba”. Representados pelo tragicômico presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Ele é uma mistura da Éneias Carneiro e Adolf Hitler. Quer tanto a bomba atômica quanto acabar com os judeus. A promessa deste povo é um exército de 2000 suicidas. Xiitas, sunitas, talibãs e nós neste emaranhado. Ahmadinejad é estranho, me lembra o Evo Morales, os dois deixam seu ódio pela cultura ocidental aflorar de maneiras diferentes, mas com um estranho ponto em comum: não usam gravata. Vai entender...

Como todo circo que se preze, temos os nossos bichanos. Mas vamos falar só do grande dragão chinês. Pois é, esta semana provou que o dragão chinês não é tão grande assim. A bolsa chinesa caiu 8%, levando junto o mundo inteiro. Mas, cuidado! Como continua crescendo a taxas assombrosas, ele ainda solta fogo, afinal o show tem que continuar.

Em nosso circo, ainda tem aquelas figuras macabras, tipo “mulher barbada”, “homem elefante”. São aquelas figuras repulsivas que não gostamos de ver nem em circo, mas que faz bem vê-las por trás de jaulas. Aí se encontra a África, Ásia pobre, América Latina. São as aberrações do planeta. Tê-las entre nós dá um certo gosto de circo de horrores ao espetáculo. E não é por menos. Em 2003 morreram 370 mil pessoas de AIDS na África do Sul, enquanto na Suazilândia (se você já ouviu falar deste país lhe dou um prêmio) 38% da população tem a doença. 75% dos moçambicanos são analfabetos. Em Angola, a cada 1000 crianças nascidas, 185.36 morrem. Se as estatísticas são assim, não tente imaginar a realidade.

Por fim, falemos do melhor da festa. O circo dentro do próprio circo. Até porque é melhor falar com mais calma do que se entende. A atração principal desta noite é o Brasil, representado por um torneiro mecânico pinçado a dedo, que fala errado e está fazendo tudo ao contrário do que sempre pregou. Não é por menos que a nova arrumação de governo parece mais um samba do crioulo doido. Até ex-aliado do Fernando Collor está na jogada. No Brasil, sofremos com as mazelas africanas ao mesmo tempo em que a taxa tributária é semelhante às taxas escandinavas. Pagamos o mesmo que os noruegueses para usufruir de benefícios como os nigerianos. Neste circo o leão é a Receita Federal brasileira. Além disto, somos inovadores em práticas criminosas heterodoxas. Só aqui uma pessoa é seqüestrada para que tenha o cabelo roubado. Isso mesmo, o cabelo!

Não há mais para aonde irmos. A filha rica que mata os pais, a criança deixada morta na pia batismal, o juiz ladrão, o árbitro de futebol ladrão, o político ladrão, o miserável ladrão, até o vagabundo ladrão. Hoje tem gargalhada? Tem não senhor! Hoje tem marmelada? Ah, marmelada tem, sim senhor!

Caro leitor, no Circo Terra, o palhaço, infelizmente, é você.

Wednesday, February 28, 2007

Um pouco acerca do cristianismo (parte 1)

Filmes biográficos estão sempre a um passo da total mediocridade. Se alguém é interessante o suficiente para se tornar um filme, é porque sua vida merece ser contada. E compilar uma vida, por mais curta que seja é dificílimo em uma hora e pouco de filme. Pode ficar longo, chato e entediante, e (ou) na maioria das vezes incompleto.

O último filme deste gênero que assisti foi Johnny e June, Ring of Fire: The Passsion of Johnny & June, sobre o cantor americano Johnny Cash, uma espécie de Elvis Presley menos famoso e mais talentoso. Cash é o astro de rock típico dos anos 50, ou seja, ex-rapaz de família, ex-crente, viciado em bolinhas, rodando os Estados Unidos de carro, fazendo turnês, antes de se tornar de fato famoso. Mas como todo astro do rock, ele cai, vai preso, larga a família e tudo aquilo que estamos acostumados. Ele se apaixona pela parceira musical, June, e é ela quem acaba ajudando-o a sair do fundo do poço.

Eu não perderia tanto tempo falando sobre este filme se não fosse por uma cena, uma ceninha no meio de uma musica (o filme tem várias, e boas!). É a parceira, agora amiga e futura esposa, o levando a uma igreja evangélica.

O que me impressionou tanto é que June também era divorciada. E ser divorciada no sul dos Estados Unidos na década de 50 e 60 não era para qualquer um. Enfrentava-se de tudo: preconceito, ofensas, olhares de condenação por todos os lados. Os puritanos norte americanos sabiam (e sabem até hoje) separar os “santos” dos “profanos”.

Para que fique bem claro que o “cristianismo” vivido pelos segregacionistas de toda espécie é apenas uma vertente de tudo aquilo que o próprio Cristo foi contra é que estou escrevendo estas palavras. O verdadeiro cristianismo, parafraseando C.S. Lewis, é puro e simples. Este purismo e simplicidade derivam das próprias palavras e ATITUDES de Jesus. Atitudes em maiúscula, já que palavras o vento leva e de nada adianta um calhamaço de papel sobre vida se não se vive o que está escrito.

Jesus não separava “santos” e “profanos”. Ele convivia com todos. Exortava a todos. Amava a todos não só da boca pra fora, mas da alma pra fora, se é que você me entende.

A dificuldade do ser humano em amar o diferente de si é tão grande que, por exemplo, só porque Jesus, com palavras, impediu que os homens apedrejassem a mulher pecadora já estão dizendo que ele casou com ela, teve um filho e blábláblá. Ele não poderia só ama-lá? Tinha que também querer transar com ela?

Lendo Phillip Yancey neste final de semana me deparei com algo fantástico. Ele tem um amigo homossexual, e vivem perguntando-lhe como ele pode ser amigo de um gay. A resposta dele é: como ele pode ser amigo de um pecador como eu?

Fantástico! Cristianismo límpido! A única segregação que o verdadeiro cristianismo faz é: pecado e pecador. Todos estamos no mesmo barco de Adão. Todos pecamos. Pela fé em Jesus, segundo a Bíblia, somos regenerados, mas continuamos pecando. O que menos o pecador precisa é de mais um dedo apontando para ele.

O Jesus bíblico é o Jesus cuja mão nunca aponta, mas está sempre estendida. O cristão bíblico idem. Se você é cristão, independente da igreja, e não vive isso, já passou da hora de você mudar de atitude. E se você não é cristão, a porta do céu está aberta para você, independentemente da quantidade de portas que se fecharam sobre a sua vida. E céu não é nada das historias de carochinha que nos contam para ilustrar a vida mole após a morte, céu comunhão com Jesus e pode começar aqui.

Obrigado Mr and Ms Cash, amados irmãos.

Wednesday, February 21, 2007

Brasil: o maior espetáculo da Terra

Passei os últimos dias literalmente ilhado. Estou no Leblon, e para quem não sabe, o Leblon é cercado de águas: canal do jardim de Alah, canal da Visconde de Albuquerque, Lago Rodrigo de Freitas e é claro, o Oceano Atlântico. Já que sou um pária no Reino de Momo, encontrei refúgio aqui.

Nesta semana ninguém quis saber de violência, de ministérios usados como moeda de troca, de crise do setor aéreo, muito menos da panacéia que é o governo federal. Então, só me resta falar do que todo mundo quer ouvir: carnaval.

Durante este tempo, a silhueta da Grazy, se esfregando contra os olhares do mundo, é muito mais importante do que qualquer outro assunto que se possa imaginar. Seca no Nordeste? Excesso de chuvas no Sudeste? Quem se importa? Contanto que caia confetes e serpentina esta semana, tudo bem.

Chico Buarque em uma canção sobre o carnaval fala: “amanhã tudo volta ao normal”, referindo-se à quarta feira de cinzas. Mas o que é normal por aqui? No Brasil, o normal é o carnaval, onde ninguém é de ninguém e tudo é de todo mundo. Nestes dias, o país se despe de todas as falsas pretensões de ser uma nação de verdade e mostra para que veio. Estamos no mundo a passeio. O calendário emocional do inconsciente brasileiro não é outro a não ser: uma semana de folia e um ano de cinzas.

Em terra de abada, quem usa terno é vagabundo e quem trabalha é pobre, mas muito pobre mesmo porque trabalho no carnaval é só para quem é ruim da cabeça ou doente do pé. Para uma nação tão abastada como a nossa, o que é uma semaninha de folia, não é mesmo? Trabalho é coisa para Suécia, China, Estados Unidos. Duvido se lá não teria um baita carnaval se eles também tivessem as nossas mulatas, as nossas praias e a nossa condescendência para com a canalhisse que nos rodeia.

Aumento do uso de drogas? Adolescentes grávidas pipocando em casas de família? Borbulhar de DST? Aumento de assaltos, assassinatos, condutores embriagados, estupros? Quem quer ouvir isso? Quando a poeira da festa abaixa coloquemos estas seqüelas “momescas” em baixo do mesmo tapete em que colocamos a falta de vergonha na cara dos políticos e a ignorância do povo. Uma salva de palmas! Pois na Favela Brasil, o que não falta em nossos barracos é um grande e acolhedor carpete.

Hoje é quarta feira de cinzas: feliz ano novo! 2007 começa aqui, mas já tem prazo para acabar, não se preocupe. E desfaça essa cara de cinzas, afinal de contas, o carnaval fora de época ‘tá aí, para que tudo sempre volte ao normal.

Wednesday, February 14, 2007

O Rio nosso de cada dia...

Antes de qualquer palavra, declaro, sou saudosista sim, admito. Houve um tempo em que o Haiti não era aqui. Em que se falava mais de Ipanema e Copacabana do que de Vila Joanita e Morro do Barbante. Em que se preferia cantar “Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro” do que “Alô, Rio de Janeiro - aquele abraço!”

Enquanto o Cristo Redentor concorre com outros monumentos para ser umas das 7 maravilhas modernas da humanidade, a população à sua volta permanece rendida. É o Cristo de braços abertos, o povo de mãos ao alto e gente como eu, comentando tudo isso.

Na década de 80, Nova Iorque era o Rio de Janeiro do primeiro mundo, ou seja, uma cidade charmosa e cultuada que se encontrava sitiada pela bandidagem em geral. A diferença de NY de ontem e o RJ de hoje é que eles tinham Rudy Giuliani literalmente colocando os criminosos contra a parede com políticas de segurança consistentes e compromissadas em exterminar o crime, enquanto nós não temos nada nem ninguém.

São anos a fio sendo governados por uma farranchada descompromissada com qualquer política séria de qualquer natureza, muito menos de segurança. Vamos ver se agora o menino Cabral consegue começar a dar um basta à questão da violência na cidade do Rio de Janeiro. A polícia e os políticos do estado não têm moral alguma nas comunidades onde o crime se desenvolve. Basta lembrar que a bandidagem criou uma espécie de “poder paralelo”, onde os criminosos suprem algumas necessidades do povo. No estado do Rio, até os criminosos são populistas!

Onda já se viu? O Comando Vermelho tem suas origens na prisão da Ilha Grande, onde bandidos comuns foram catequizados por presos políticos na época da ditadura militar. Após a redemocratização, os mesmos presos políticos foram levados para os palácios de governo enquanto seus colegas de cela voltaram para as comunidades doutrinados em Marx, Lênin e Stalin.

O Rio hoje é uma gigantesca Gulag. Gulags são aqueles campos de concentração usados por Stalin durante seu período de governo, onde cerca de 10 milhões de pessoas foram exterminadas. É o Rio sitiado. A classe média à mercê da violência, os ricos acuados em seus carros blindados e condomínios de segurança máxima, enquanto os que moram nas comunidades carentes estão entre o chumbo trocado pelas milícias urbanas, traficantes e policiais.

Mas afinal de contas, o que diferencia o Rio das outras metrópoles nacionais? É privilégio do carioca viver com a arma apontada para a cabeça? Sem dúvida compartilhamos este privilégio com São Paulo, Recife, Salvador; enfim com toda e qualquer cidade onde há mais de um milhão de almas. A endemia da violência não é regional. O problema é nacional, são as condições do país que possibilitam que a onda de violência varra a sociedade como tem varrido. Depredaram a educação nacional. Sucatearam a saúde nacional. A desigualdade da renda é um fato nacional. E violência, entre outras coisas, é uma cruel conseqüência.

A grande diferença do Rio para as outras cidades é que no Rio a violência mora ao lado banqueiro, do mega empresário, do doutor em geral. O músico popular uma vez cantou: “É muito fácil falar de coisas tão belas, de frente pro mar, mas de costas pra favela.” É a pura verdade. O Rio choca porque a violência atinge diretamente o dono do poder. Somos tão hipócritas que nos causa maior dor um corpo vestindo camisa pólo cravado de balas do que um desconhecido sem camisa, sem nome, sem sapato ensangüentado no asfalto.

Temos, todos nossa parcela de culpa. Abraços coletivos na Lagoa Rodrigo de Freitas não resolvem o problema; gente de branco desfilando na Vieira Souto não resolve o problema; entupir complexos prisionais com ladrões de galinha também não resolve o problema. Mudança de mente resolve. Falta ao brasileiro enxergar o problema da maneira correta. É deixar de viver em uma sociedade de castas em que o egocentrismo é ponto crucial da vida em sociedade, e passar ver o outro como seu co-participante na peça urbana. É tomar consciência de que pobre e ricos, apesar de estarem em acomodações diferentes, estão no mesmo barco, portanto sendo a tragédia o final da historia, o fundo do mar que os aguarda é o mesmo para todos.

Por quantos Joões Hélios teremos que chorar? Quantos de nossos meninos terão que ser brutalmente massacrados para que venhamos a tomar atitudes que mudem a nossa história? Dependendo de quem você vota, seu voto pode salvar uma vida. O tamanho de sua consciência política é diretamente proporcional à diminuição da violência sim! Faça com que seu político trabalhe por você e não você por ele. A arma contra a violência está no seu dedo ao votar e em sua garganta ao bradar por justiça de fato!